Das abóboras, dos pães e das memórias
A princípio, a abóbora se trata de uma hortaliça encontrada originalmente no Novo Mundo, entre os Povos Ameríndios. Na classificação botânica as abóboras pertencem à Família das Cucurbitaceae. O gênero Cucurbita compreende 27 espécies conhecidas, das quais cinco espécies são as mais cultivadas: Cucurbita pepo, Cucurbita maxima, Cucurbita moschata, Cucurbita argyrosperma e Cucúrbita ficifolia. Em nosso texto escolhemos a Cucurbita pepo por ser a mais antiga quanto à origem da espécie, em escavações arqueológicas foram encontrados alguns vestígios que datam de 8750 a.C. a 700 d.C. no vale de Oaxaca, México, e em 7000 a.C. a 500d.c nas grutas de Ocampo em Tamaulipas, 4000 a.C. onde hoje se localiza o Missouri e em 1400 a.C. onde está situado Mississipi.
Quando os portugueses chegaram ao Novo Mundo, a abóbora era a terceira fonte de alimento entre os povos indígenas, a mandioca e o milho a antecediam, e foram os portugueses que levaram a abóbora à Europa, não muito tempos depois, a abóbora ocupava o lugar do nabo nas festividades de Samhaim, quando, na Irlanda, se usavam velas acessas dentro de abóboras com rostos entalhados relacionados ao folclore irlandês que pode ter dado origem, na América do Norte, ao Halloween.
A abundância
A abóbora também é símbolo de abundância e de prosperidade, um dos maiores frutos da terra possui grande quantidade de sementes gera a ideia de vasta descendência, essa é uma das razões pela qual a consideravam na China, como o primeiro dos legumes, o imperador dos vegetais. Alimenta de maneira abundante, generosa, substanciosa, nutritiva e versátil em suas aplicações na culinária, cabendo bem em caldos, em chimias, e assadas em forno, ou ao redor de fogueiras, como provavelmente eram cozidas em tempos imemoriais.
Como a abóbora, o trigo foi introduzido ao cardápio alimentar do ser humano por volta de 7000 anos a. C., na região do Oriente Médio e Egito, chegando a ser utilizado como moeda de troca entre os povos. Acredita-se que com esse cereal tenha sido possível o desenvolvimento de sociedades em grandes aglomerações de seres humanos, fato que propiciaria a organização das civilizações que nos deixam legados até hoje.
Dos pães
De todas as memórias relacionadas a sabores e aromas da produção de pão caseiro, aquelas que me levam à infância na casa de minha nona em que eu assistia tios e tias reunidos para amassar o pão em família, foram as de maior alegria, principalmente quando na hora de retirar os pães quentes do forno de barro, algo muito especial que veio a se repetir em minha vida adulta na casa de minha sogra, onde também, em família, faziam pães para consumo e venda.
Com eles, em 2002, aprendi a fazer o pão integral com arroz integral, que é, com certeza, um dos mais nutritivos e saborosos que conheço, tornando-se uma receita de tradição em nossa família desde então.
Mas o pão também tem sua história, que começa com a domesticação do trigo na Mesopotâmia, região do atual Iraque. No entanto, o pão era feito sem fermentação pelos habitantes que lá viviam há cerca de sete mil anos atrás, a fermentação surgiu entre os egípcios a partir do cozimento do pão em forno de barro, historicamente são eles os inventores do pão fermentado e assado em forno. Aliás, atribuem-se aos egípcios as primeiras padarias com as quais ganharam fama no mundo mediterrâneo, tornando-se conhecidos como “os comedores de pão”.
Na Europa, era hábito a mãe dar de presente para a filha que se casava uma porção de “pão velho” , exemplo que seria seguido pela filha com sua descendência. Ao se passar à geração seguinte o fermento, estava se transmitindo todo um conhecimento de abundância, generosidade e de alimento de geração em geração.
“Até que se mude o comportamento, tudo se repete. Mas é você quem muda, não o outro. Você é o sujeito e autor da ação. Ação é atitude, posicionamento frente ao que já se decidiu, assumindo a responsabilidade de ser quem se manifeste com a autoridade que lhe compete. Somos os co-criadores com a divindade, somos aprendizes de deuses.”
Ana Balesca
Como alimentos que se traduzem em abundância, a abóbora e o pão estão ligados as festividades das quais nos recordamos com mais familiaridade em razão das pessoas com as quais compartilhamos nossas histórias e nossas vivências. O próximo evento de festividades é o Feriado de Finados ou Dia de Todos os Mortos, temos em várias tradições culturais a oportunidade de vivenciamos novas experiências, é um momento para nos encontrarmos e nos despedirmos de antigos hábitos, de velhos fantasmas, revivendo e transformando com o lúdico da atmosfera do possível e do impossível a conexão com a Ancestralidade, a Gratidão para com nossos queridos ancestrais familiares. Inspirada na tradição do Samhaim sugiro alimentação leve para essa jornada, como na receita a seguir
Sugestão de Receita
Abóbora recheada
Ingredientes
1 abóbora hokkaido pequena
sal
Na sequência
Recheio
- 1/2 abóbora pequena descascadas e picadas em cubos
- 2 dentes de alho picados miúdos
- 1 pedaço pequeno de canela em pau
- 1 cebola pequena cortada em lâminas
- 200 ml de água fervente
- sal e azeite a gosto
Como fazer o recheio
Em uma panela aqueça o azeite com a canela, refogue o alho, acrescente a abóbora picada e o sal. Deixe cozinhar até a abóbora desmanchar.
- Retire a canela e bata no liquidificador com água quente.
- Enquanto a abóbora cozinha, refogue com azeite e sal a cebola, cortadas em lâminas até ficarem douradas, sem queimar. Reserve.
- Junte o creme de abóbora, mexa bem, acerte o sal.
Retire a abóbora da panela de pressão com cuidado para não quebrá-la. Coloque-a num recipiente em que possa mantê-la aquecida. Despeje o creme com as lâminas de cebola na abóbora. Ótimo Apetite!
Tenha um dia agradável e
Gratidão pela leitura
Com o propósito de Conhecer, Entender e Aprender,
Ana Balesca